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- Embrapa lança novos mapas de solos e destaca ciência brasileira na COP30
Estudos sobre erodibilidade, aptidão agrícola e estoque de carbono reforçam o papel estratégico do solo na adaptação climática e na agricultura de baixo carbono A AgriZone é a vitrine de inovação e sustentabilidade que a Embrapa mostra durante a COP30. Créditos: Gov.br Durante a COP30 , que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro em Belém (PA) , a Embrapa apresentará uma série de novos mapeamentos sobre solos brasileiros , com foco em erodibilidade, aptidão agrícola das terras e estoques de carbono .Os dados integram a AgriZone , espaço de inovação e sustentabilidade da instituição, que funcionará como uma vitrine da ciência agroambiental brasileira . Sob coordenação da Embrapa Solos (RJ) , os estudos oferecem subsídios para políticas públicas de manejo sustentável do solo e da água , fundamentais para o enfrentamento das mudanças climáticas e para a agricultura de baixo carbono . Mapeamentos estratégicos para políticas públicas O Mapa de Erodibilidade dos Solos do Brasil mede a capacidade do terreno de resistir à erosão causada pela chuva — um dos principais vetores de degradação ambiental no mundo. Com escala de 1:500.000 , o material poderá ser usado em planejamentos estaduais ou de grandes bacias hidrográficas , apoiando programas de conservação de solo e água e ações de mitigação de impactos ambientais. Já o Mapa de Aptidão Agrícola das Terras do Brasil , desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) , identifica o potencial produtivo das áreas agrícolas , considerando diferentes níveis de manejo — de lavouras intensivas a sistemas menos exigentes, como pastagens e silvicultura. Os resultados ajudam a orientar decisões estratégicas sobre uso da terra , contribuindo para a sustentabilidade da produção agrícola nacional . Outro destaque são os Mapas de Estoque de Carbono do Solo do Estado do Rio de Janeiro , fruto de um acordo entre a Embrapa Solos, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS-RJ) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) . O levantamento, com resolução espacial de 30 metros (escala 1:100.000) , quantificou cerca de 189 milhões de toneladas de carbono na camada de 0 a 20 cm e 119 milhões de toneladas entre 30 e 50 cm de profundidade. Essas informações podem fortalecer inventários de emissões , estimular o mercado de créditos de carbono e guiar políticas de restauração de solos e vegetação nativa . Os resultados compõem a publicação “Uma visão panorâmica dos estoques de carbono nos solos do estado do Rio de Janeiro – um ativo ambiental estratégico” , que será lançada durante a COP30. O material traz recomendações práticas para o sequestro de carbono pelo solo , promovendo uma agricultura mais resiliente e ambientalmente equilibrada. AgriZone: vitrine de inovação climática Instalada na Embrapa Amazônia Oriental , a AgriZone fica a 1,8 km das áreas oficiais da conferência (GreenZone e BlueZone) e funcionará de 10 a 21 de novembro , das 10h às 18h , com entrada gratuita . O espaço exibirá tecnologias de produção de alimentos de baixo carbono , soluções para adaptação às mudanças climáticas e modelos de segurança alimentar aplicados à realidade tropical. Além das exposições interativas, a programação inclui palestras e rodas de conversa , com destaque para: “Sistemas Agrícolas Tradicionais no Brasil” – conduzida pelo pesquisador Wenceslau Teixeira (Embrapa Solos) , em 18 de novembro, apresentando resultados do projeto RSAT Alto Juruá , que valoriza saberes locais e cultivos tradicionais na Amazônia. “Como conciliar agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos?” – mediada pela pesquisadora Rachel Bardy Prado , em 20 de novembro, com participação de especialistas da Embrapa , do INPA e da Universidade de Oxford , para debater o Relatório Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES/2024) . Os debates abordarão tecnologias limpas , compensações econômicas , inclusão socioprodutiva e governança ambiental , com foco na expansão de práticas sustentáveis em todos os biomas brasileiros. Soluções tecnológicas em destaque A AgriZone também apresentará virtualmente inovações da Embrapa Solos , entre elas: Barragem Subterrânea – alternativa sustentável de armazenamento hídrico para o Semiárido. ZonBarragem – zoneamento de áreas potenciais para barragens subterrâneas em Alagoas. SoloFlux – permeâmetro digital automatizado para medir a condutividade hidráulica do solo. Fertmovel – laboratório móvel para análise de fertilidade do solo. PAQLF – Programa de Análise de Qualidade de Laboratórios de Fertilidade. Segundo Gizelle Bedendo , chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos, a integração entre o Fertmovel e o PAQLF fortalece a sustentabilidade ambiental e econômica do setor agrícola , ao permitir análises precisas que facilitam o acesso de produtores a crédito rural . “Conhecer a fertilidade do solo é essencial para a sustentabilidade produtiva. Essa integração tecnológica garante eficiência, segurança e apoio direto ao produtor”, explica Bedendo. Fonte: Embrapa
- Revista destaca papel dos bioinsumos na conservação dos recursos naturais e na agricultura sustentável
Publicação da Esalq/USP reúne pesquisas, dados e inovações que posicionam o Brasil na vanguarda da produção e regulamentação de bioinsumos Ao longo de sua história, a Esalq tem avançado nas ciências agrárias - Foto: Reserch Gate A nova edição da revista Visão Agrícola , lançada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) , dedica suas 96 páginas ao tema dos bioinsumos — produtos biológicos que vêm transformando a agricultura mundial e ganhando protagonismo no Brasil. A publicação, disponível on-line e de acesso gratuito, reforça a importância do uso de microrganismos, fungos e bactérias como aliados no manejo agrícola e na conservação dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que evidencia o papel de liderança científica e tecnológica da Esalq na construção de uma agricultura mais resiliente, eficiente e sustentável . “A agricultura sustentável emerge como um dos maiores desafios do século 21”, afirma no editorial a diretora da Esalq, Thais Maria Ferreira de Souza Vieira , destacando que a instituição atua na vanguarda da transição para sistemas agroalimentares equilibrados, produtivos e de baixo impacto ambiental. Bioinsumos e segurança ambiental Entre os destaques da edição está a reportagem “Protagonista dos bioinsumos: Brasil lidera em pesquisa, produção e consumo” , que analisa o crescimento expressivo do setor e os avanços trazidos pela Lei nº 15.070/2024 , o novo marco legal dos bioinsumos.A legislação — aprovada em dezembro de 2024 — estabelece diretrizes claras para produção, registro e uso desses produtos biológicos, consolidando o país como referência mundial em regulamentação e inovação sustentável . Segundo o texto, o Brasil se destaca não apenas pela força de seu agronegócio, mas também por ter investido de forma contínua em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico , por meio de instituições públicas e privadas, que transformaram conhecimento em soluções práticas para o campo.Esses avanços incluem ganhos diretos em controle biológico de pragas e doenças , fertilidade do solo , redução de custos e melhoria da qualidade ambiental . Pesquisa, ensino e extensão na fronteira da inovação Ao longo de sua trajetória, a Esalq tem sido protagonista na geração de conhecimento científico em ciências agrárias. De acordo com a diretora, a atuação da escola vai além da pesquisa de ponta: integra ensino e extensão para formar profissionais preparados para lidar com os desafios da sustentabilidade e disseminar tecnologias agrícolas inovadoras. Entre as linhas de pesquisa destacadas estão o manejo integrado de pragas , a agricultura de precisão e o uso racional de recursos naturais , com foco na manutenção da biodiversidade e na substituição gradual de insumos químicos por alternativas biológicas. “Os estudos conduzidos na Esalq têm gerado avanços significativos no uso de agentes biológicos — microrganismos, fungos e bactérias — com impactos expressivos desde a saúde dos solos até a qualidade dos alimentos”, destaca Thais Vieira. Crescimento do setor e dados de mercado Revista Visão Agrícola - Créditos: ESALQ/USP A revista também apresenta um panorama detalhado da expansão global e nacional dos bioinsumos. Em artigo assinado por Alessandro Cruvinel, Valéria Martins e Marcus Vinícius Segurado Coelho , os autores apontam que esses produtos representam uma alternativa estratégica aos insumos químicos , contribuindo para a redução de resíduos nos alimentos e para a autonomia tecnológica do país, com geração de emprego, renda e desenvolvimento local. Atualmente, o aplicativo Bioinsumos , desenvolvido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Embrapa , registra mais de 700 produtos aprovados no Brasil — desde biofertilizantes e biopesticidas até inoculantes e extratos vegetais . Dentre esses, um terço utiliza fungos entomopatogênicos, conhecidos como bioinseticidas ou micoinseticidas , eficazes no controle biológico de insetos e ácaros. O crescimento do setor também se reflete em números de mercado. Segundo o artigo “Bioprotetores têm capacidade de proteger plantas sem matar nenhum organismo” , de Wagner Bettiol , o mercado global de biocontrole movimentou US$ 8,2 bilhões em 2023 e deve atingir US$ 25,7 bilhões até 2030 , com taxa de crescimento anual superior a 17% . No Brasil, a área tratada com agentes de biocontrole cresceu 65% em três anos , superando 58 milhões de hectares na safra 2023/2024 , impulsionada pela adoção de bionematicidas , que já superaram os nematicidas químicos em uso no campo. Agricultura sustentável e bioeconomia A edição de Visão Agrícola evidencia como o avanço dos bioinsumos reforça a convergência entre agricultura, ciência e bioeconomia , alinhando-se a metas de sustentabilidade e descarbonização do setor produtivo. Ao substituir produtos químicos por alternativas biológicas, o campo se torna mais competitivo, reduz a dependência de importações e se posiciona como protagonista na transição agroecológica global . “A inovação tecnológica é o pilar central dessa transformação — ela permite equilibrar produtividade e preservação dos recursos naturais”, reforça a diretora da Esalq. A revista completa está disponível gratuitamente em formato digital no portal da Esalq.📖 Leia a edição especial Visão Agrícola – Bioinsumos .
- Folhas de café: resíduos agrícolas transformados em tecnologia sustentável
Nanopartículas obtidas a partir de folhas descartadas do café podem ser aplicadas na saúde, no tratamento de água e na fabricação de dispositivos eletrônicos biodegradáveis Diferencial do estudo foi utilizar as próprias moléculas presentes nas folhas de café para fabricar as nanopartículas, em um processo de "síntese verde" - Créditos: Barista Magazine online Em um avanço que conecta agricultura, sustentabilidade e inovação tecnológica, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) desenvolveram um processo capaz de transformar folhas de café descartadas em nanopartículas de óxido de zinco — estruturas microscópicas com alto potencial de aplicação nas áreas de saúde, meio ambiente e tecnologia . O estudo, realizado em parceria com cientistas internacionais, foi publicado na revista Scientific Reports , do grupo Nature , e apresenta uma solução inovadora de “síntese verde” , um método limpo e de baixo custo para a produção de materiais avançados. Sustentabilidade desde a origem Professor Igor Polikarpov - Foto: Researchgate O diferencial da pesquisa está em utilizar as próprias moléculas bioativas das folhas de café para fabricar as nanopartículas, dispensando produtos químicos tóxicos comumente usados na indústria. Essa rota biotecnológica reduz custos, impactos ambientais e amplia o aproveitamento de resíduos agrícolas — uma alternativa relevante para o Brasil, maior produtor mundial de café . As folhas, normalmente descartadas após o processamento dos grãos, contêm compostos antioxidantes e fenólicos que atuam como agentes naturais de síntese. A partir delas, os cientistas conseguiram obter nanopartículas multifuncionais capazes de combater microrganismos , degradar poluentes e armazenar dados eletrônicos . “Estamos diante de uma inovação que une sustentabilidade e tecnologia. É possível transformar resíduos agrícolas em soluções para desafios globais”, afirma o professor Igor Polikarpov , pesquisador do IFSC e autor correspondente do estudo. Aplicações tecnológicas Nos testes laboratoriais, as nanopartículas mostraram alta eficiência contra bactérias como Staphylococcus aureus e Escherichia coli , duas das principais responsáveis por infecções hospitalares. Esse resultado abre caminho para o desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos , especialmente em um contexto de crescente resistência bacteriana. O estudo também identificou o potencial das partículas para tratamento e descontaminação de água . Sob luz ultravioleta, elas foram capazes de degradar corantes utilizados na indústria têxtil — substâncias conhecidas por poluir rios e mananciais.Essa propriedade fotocatalítica indica que as nanopartículas podem ser aplicadas em estações de tratamento de efluentes ou em tecnologias de purificação ambiental de baixo custo. Nanotecnologia verde Além dos avanços em saúde e meio ambiente, o grupo explorou as possibilidades na área de tecnologia eletrônica biodegradável .Ao integrar as nanopartículas de café com quitosana — um biopolímero obtido de cascas de crustáceos —, os pesquisadores criaram um dispositivo de memória chamado bioReRAM , capaz de armazenar informações com desempenho comparável ao de memórias convencionais, mas com menor impacto ambiental . O bioReRAM representa um passo importante em direção à computação verde , campo emergente que busca substituir materiais tóxicos e não recicláveis por alternativas sustentáveis na indústria eletrônica. Segundo Polikarpov, o projeto mostra como a bioeconomia pode gerar inovação científica e renda no campo. Se ampliada para a escala industrial, a tecnologia pode beneficiar pequenos e médios agricultores, agregando valor a resíduos agrícolas e reduzindo o desperdício. Artigo completo, aqui . Fonte: Jornal da USP
- Cultivo de macaúba cria oportunidades e reduz emissões de carbono no Brasil
O projeto de biocombustíveis renováveis da Acelen tem transformado a macaúba em uma fonte estratégica para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel renovável (HVO). A iniciativa plantará 800 mil mudas em 1.500 hectares na Bahia. Créditos: Eixos A macaúba tem capacidade de transformar terras que não contribuem mais para o ecossistema global em novas florestas, capazes de capturar carbono e movimentar a economia por meio da produção de combustíveis renováveis, o que amplia ainda mais o potencial do fruto para o mundo. A proposta coloca o Brasil em posição de destaque na transição energética global. Com o uso da macaúba como matéria-prima principal, o projeto pretende sequestrar até 60 milhões de toneladas de CO₂ nos próximos anos, ao mesmo tempo em que promove recuperação de pastagens e inclusão produtiva de pequenos agricultores. Outro fator que a torna uma alternativa sustentável é a instalação de processos de governança e rastreamento. Para as regiões de interesse, o Código Florestal define que de 20% a 35% das áreas de cultivo devem ser destinadas à preservação da vegetação nativa. Assim, as florestas de macaúba poderão se integrar às áreas de proteção ambiental e promover o aumento da biodiversidade, fundamental para o equilíbrio do meio ambiente. O protagonismo da macaúba O cultivo da macaúba (Acrocomia aculeata) representa um novo capítulo para a bioeconomia brasileira. Considerada uma planta altamente eficiente, sua produtividade pode ser até dez vezes superior à da soja por hectare . Além disso, o fruto é integralmente aproveitável — da polpa ao caroço — permitindo a extração de óleo vegetal, tortas proteicas e subprodutos de alto valor agregado. Com investimento inicial de US$ 3 bilhões , a Acelen Renováveis já iniciou o plantio das mudas na fazenda-modelo de Cachoeira (BA) , e desenvolve estudos avançados de manejo e nutrição vegetal no Acelen Agripark , em Montes Claros (MG). O centro é considerado o maior polo de inovação agroindustrial do gênero no país , reunindo mais de 60 hectares de experimentos sobre densidade, produtividade e regeneração de solos degradados. Somente em Cachoeira (BA) serão plantadas 800 mil mudas de Macaúba. Créditos: Youtube Além da vertente tecnológica, o projeto também tem forte compromisso social. Cerca de 20% das plantações serão conduzidas em parceria com agricultores familiares , criando oportunidades em regiões de baixo dinamismo econômico. A expectativa é que sejam gerados até 85 mil empregos diretos e indiretos nos próximos 10 anos. Inovação e impacto positivo No Acelen Agripark , os pesquisadores operam uma extratora piloto com capacidade de 2 toneladas por hora , destinada à obtenção do óleo e de coprodutos da macaúba. O sistema é totalmente voltado para produção sustentável , com reaproveitamento de resíduos e aplicação de modelos nutricionais adaptados ao bioma local. Acelen Agripark, em Montes Claros (MG). Créditos: Acelen O centro também atua como um espaço de formação técnica e difusão científica, aproximando pesquisa, indústria e comunidades locais. Segundo especialistas, o conhecimento gerado ali representa “a semente da descarbonização”, pois integra produção energética, recuperação ambiental e transformação social — pilares fundamentais para uma transição energética justa. Além dos impactos ambientais, o projeto traz benefícios econômicos expressivos. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que a cadeia de combustíveis renováveis baseada na macaúba poderá movimentar US$ 40 bilhões na economia brasileira na próxima década, aumentado a geração de renda e a exportação de energia limpa. Futuro energético Com início de operação previsto para 2027 , a unidade integrada de produção de SAF e HVO utilizará tecnologia HEFA (Hydroprocessed Esters and Fatty Acids) — o mesmo processo empregado nos biocombustíveis de aviação de última geração. Essa tecnologia garante redução de até 80% das emissões de CO₂ em comparação com combustíveis fósseis, sem comprometer desempenho ou eficiência. O projeto também contribui para o avanço das metas globais de descarbonização e para a consolidação do Brasil como protagonista em combustíveis sustentáveis de origem vegetal . A iniciativa reforça a visão de que a integração entre floresta e agricultura pode gerar soluções climáticas, sociais e econômicas sustentáveis — demonstrando que a bioeconomia é, acima de tudo, uma oportunidade de desenvolvimento. Fonte: CNN
- Tecnologia usa energia solar para gerar fertilizante a partir de resíduos biológicos
Pesquisadores da USP e da Universidade Stanford desenvolvem tecnologia limpa e de baixo custo que converte urina em sulfato de amônia, um fertilizante essencial para a agricultura Iniciativa apresenta potencial para ampliar o acesso a saneamento básico e reduzir impactos ambientais. Créditos: BBC A dependência global da indústria de fertilizantes nitrogenados — concentrada majoritariamente em países de alta renda — tem criado gargalos econômicos e ambientais, encarecendo insumos agrícolas e ampliando desigualdades no acesso à produção de alimentos. Buscando alternativas sustentáveis, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Stanford (EUA) desenvolveram um sistema inédito capaz de transformar urina humana em fertilizante utilizando energia solar . O projeto, batizado de Solar-ECS (Photovoltaic–Thermal Electrochemical Stripping System) , propõe uma solução de baixo custo, modular e ecologicamente responsável , que pode ser aplicada tanto em zonas rurais quanto urbanas. O estudo foi publicado na revista Nature Water e conduzido por Amilton Barbosa Botelho Junior , engenheiro químico da Escola Politécnica da USP, durante seu pós-doutorado na Universidade Stanford. Amilton Barbosa Botelho Junior – Foto: Arquivo pessoal “Onde há pessoas, há urina — e, portanto, há nitrogênio em abundância. É um recurso biológico subutilizado, mas com enorme potencial para a agricultura”, explica Botelho Junior. Fertilizante a partir de um recurso biológico A urina contém nitrogênio suficiente para atender cerca de 14% da demanda global por fertilizantes agrícolas , segundo estimativas do estudo. O Solar-ECS é um reator eletroquímico fotovoltaico-térmico que recupera o nitrogênio presente na urina na forma de amônia , gerando sulfato de amônia (NH₄)₂SO₄ , um dos fertilizantes mais utilizados no mundo. O sistema é composto por três câmaras : Ânodo , onde a urina é inserida e ocorre a conversão inicial de nitrato em amônia; Cátodo , onde os íons de amônia passam por uma membrana catiônica seletiva e são transformados em gás; Câmara de ácido sulfúrico , onde o gás se combina e forma o sulfato de amônia , utilizado como fertilizante. O sistema expande o acesso a fertilizantes, saneamento e eletricidade. – Foto: Cedida pelo pesquisador A inovação não se limita à reação química. O calor gerado pelos painéis solares — normalmente um subproduto indesejado — é reaproveitado para aquecer os reatores e aumentar a eficiência do processo de extração , tornando o sistema ainda mais sustentável. “Conseguimos gerar energia elétrica de forma limpa e, ao mesmo tempo, usar o calor da luz solar para melhorar o desempenho químico do reator”, explica o pesquisador. Sustentabilidade e democratização dos fertilizantes Atualmente, a maior parte dos fertilizantes nitrogenados é produzida via processo Haber-Bosch , que consome grandes quantidades de gás natural e energia fóssil. Além do alto custo, o método contribui significativamente para a emissão global de gases de efeito estufa . O Solar-ECS , por outro lado, dispensa combustíveis fósseis e pode operar off-grid , utilizando apenas energia solar — um passo importante rumo à autossuficiência agrícola e energética em países de baixa e média renda . Segundo Botelho Junior, a distribuição desigual da produção de fertilizantes tem impacto direto sobre a segurança alimentar global: “O Norte Global concentra as fábricas, enquanto o Sul Global arca com os preços mais altos. Nosso sistema tem potencial de reverter parte dessa lógica”. Saneamento e preservação ambiental Além da aplicação agrícola, a tecnologia traz avanços importantes para o tratamento de águas residuais e o acesso ao saneamento básico . O sistema é modular e flexível, podendo ser dimensionado para grandes centros urbanos ou comunidades isoladas , promovendo o reaproveitamento de resíduos biológicos e a redução da poluição hídrica . Os testes indicaram uma significativa remoção do nitrogênio da urina, com amostras que apresentaram coloração mais clara e ausência do odor característico , sinalizando eficiência no tratamento. Esse resultado é particularmente relevante em regiões onde o excesso de nitrogênio causa eutrofização de rios e lagos , comprometendo a biodiversidade aquática. “O processo oferece dupla vantagem: evita a contaminação ambiental e converte um resíduo em insumo agrícola valioso”, ressalta Botelho Junior. Desafios e perspectivas A principal limitação para a adoção em larga escala ainda é o custo dos materiais reagentes e da infraestrutura elétrica . Entretanto, o uso da energia solar como matriz principal reduz significativamente o custo operacional e a pegada de carbono do sistema. O pesquisador acredita que o escalonamento industrial é viável e que, com apoio de políticas públicas e investimento em inovação verde, o Solar-ECS pode revolucionar a economia circular no agronegócio . O grupo de pesquisa também avalia expandir a tecnologia para extração de minerais críticos — como lítio, cobalto e níquel — usados em baterias e dispositivos eletrônicos, ampliando o alcance da inovação. “Trata-se de um sistema de economia circular: o que antes era descartado agora pode gerar alimento, energia e sustentabilidade”, conclui o pesquisador. 🔗 O artigo completo Prototyping and modelling a photovoltaic–thermal electrochemical stripping system for distributed urine nitrogen recovery está disponível em: Nature Water . Fonte: Jornal da USP
- Pesquisadores da Esalq e do Cena estão entre os cientistas mais influentes do mundo
Reconhecimento internacional destaca a excelência científica da USP em Piracicaba e o impacto global de suas pesquisas nas áreas de agricultura, meio ambiente, biotecnologia e sustentabilidade. Créditos: Agrimídia A Universidade Stanford divulgou, em agosto de 2025, a nova edição do ranking mundial dos cientistas mais influentes do planeta , elaborado anualmente sob a coordenação do professor John P. A. Ioannidis , com base em indicadores padronizados de citações científicas. Nesta edição, a Universidade de São Paulo (USP) ampliou novamente sua presença na lista, reunindo 287 pesquisadores — o maior número já registrado pela instituição desde o início do levantamento. Entre os destaques, 23 cientistas do campus “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba , que abriga a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) , figuram entre os mais citados do mundo em suas respectivas áreas de atuação. Excelência reconhecida mundialmente O levantamento — intitulado Updated Science-wide Author Databases of Standardized Citation Indicators — é hospedado no repositório de dados da Elsevier (Mendeley Data Repository) e utiliza o chamado c-score , indicador que mede o impacto das citações em vez de apenas a quantidade de publicações. O método considera também a posição do autor em cada artigo , a colaboração entre pesquisadores e o peso relativo das citações , resultando em uma análise mais precisa da influência acadêmica individual. Os dados são fruto de um esforço contínuo para valorizar a qualidade e o impacto da produção científica , e vêm sendo aprimorados desde 2016, em publicações na revista PLOS Biology . USP no cenário global Com 287 nomes na lista, a USP é a instituição brasileira com o maior número de pesquisadores reconhecidos — mantendo crescimento pelo terceiro ano consecutivo. No contexto nacional, o Brasil aparece com 1.461 cientistas listados , o equivalente a 0,6% do total mundial , ocupando a 24ª posição global . O Estado de São Paulo concentra 40% do total nacional , com destaque também para a Unicamp (106 nomes) e a Unesp (80 nomes) . Os pesquisadores da Esalq e do Cena representam áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável , incluindo agronomia, biotecnologia, ecologia, microbiologia, química analítica e zootecnia . Representação internacional Os 23 pesquisadores da USP Piracicaba reconhecidos pelo ranking internacional são: Pedro Henrique Santin Brancalion (Ecology) – Esalq José Alexandre Melo Demattê (Agronomy & Agriculture) – Esalq Carlos Eduardo Pellegrino Cerri (Agronomy & Agriculture) – Esalq Paulo César Sentelhas (Agronomy & Agriculture) (in memoriam) – Esalq José Roberto Postali Parra (Entomology) – Esalq Ricardo Antunes de Azevedo (Plant Biology & Botany) – Esalq Maurício Roberto Cherubin (Agronomy & Agriculture) – Esalq João Lúcio de Azevedo (Microbiology) – Esalq Tsai Siu Mui (Microbiology) – Cena Celso Omoto (Entomology) – Esalq Lessando Moreira Gontijo (Entomology) – Esalq Lucas Willian Mendes (Microbiology) – Cena Tiago Osório Ferreira (Agronomy & Agriculture) – Esalq Carlos Clemente Cerri (Agronomy & Agriculture) (in memoriam) – Cena Paulo Sergio Pavinato (Agronomy & Agriculture) – Esalq Fernando Dini Andreote (Microbiology) – Esalq Ernani Pinto Junior (Analytical Chemistry) – Cena Quirijn De Jong Van Lier (Agronomy & Agriculture) – Cena Roberto Sartori Filho (Dairy & Animal Plant) – Esalq Fabio Rodrigo Piovezani Rocha (Analytical Chemistry) – Cena José Leonardo de Moraes Gonçalves (Forestry) – Esalq Gilberto José de Moraes (Entomology) – Esalq Luciano Martins Verdade (Zoology) – Cena Esse grupo de pesquisadores, que atua em áreas complementares do conhecimento agroambiental , tem contribuído de forma decisiva para o avanço da ciência aplicada à sustentabilidade e à produção de alimentos . Ciência em Piracicaba Os resultados refletem o forte compromisso da USP em Piracicaba com a pesquisa interdisciplinar e a inovação científica , características que posicionam a Esalq e o Cena entre os principais centros de excelência agrícola e ambiental da América Latina . Ambas as unidades mantêm colaborações internacionais e desenvolvem projetos que envolvem tecnologias de manejo de solo, biologia molecular, controle biológico de pragas, sistemas agroflorestais e mitigação de gases de efeito estufa . Esse desempenho demonstra o relevante papel da pesquisa pública brasileira e o impacto das parcerias entre universidade, setor produtivo e sociedade . Fonte: ESALQNET
- Kit desenvolvido na Esalq é reconhecido pela FAO como inovação global em agricultura sustentável
Ferramenta portátil avalia a saúde do solo e foi selecionada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) entre as inovações mundiais que transformam os sistemas agroalimentares. Kit Sohma sendo demonstrado pela doutoranda Bruna Emanuele Schiebelbein. Créditos: ESALQNET A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) foi selecionada para participar da Cerimônia Global de Reconhecimento Técnico da FAO , que acontece no dia hoje, 15 de outubro de 2025 , em Roma, Itália, durante o Fórum Mundial da Alimentação , que também celebra os 80 anos da organização. Professor Maurício Roberto Cherubin. Créditos: ESALQ/USP O destaque da instituição se deve ao desenvolvimento do KIT SOHMA , uma ferramenta criada para avaliação rápida e acessível da saúde do solo em campo — reconhecida pela FAO como uma das inovações globais na área de gestão de recursos de terra, solo e água para uma agricultura resiliente e voltada à segurança alimentar. O projeto é liderado pela doutoranda Bruna Schiebelbein , sob orientação do professor Maurício Cherubim , do Departamento de Ciência do Solo da Esalq , e integra um conjunto de iniciativas que refletem o compromisso da Universidade de São Paulo com a inovação científica e a sustentabilidade ambiental. Tecnologia acessível O KIT SOHMA (Soil Health On-site Monitoring and Assessment) foi idealizado para avaliar a qualidade e o equilíbrio do solo diretamente no campo , de maneira prática, rápida e de baixo custo.A proposta é permitir que agricultores, técnicos e pesquisadores possam medir, de forma acessível, indicadores fundamentais de saúde do solo — um componente essencial para a produtividade agrícola e para o enfrentamento das mudanças climáticas. O conjunto é composto por ferramentas simples e um guia de campo detalhado , intitulado “Guia do Usuário de Campo do KIT SOHMA de Saúde do Solo” ( disponível aqui ), que orienta o passo a passo para a coleta de amostras, execução dos testes, interpretação dos resultados e cálculo do índice de saúde do solo . Os sete indicadores avaliados pelo KIT são: Infiltração de água , Avaliação visual da estrutura do solo , Estabilidade de agregados , pH do solo , Separação visual dos agregados , Macrofauna , Atividade biológica . Após a análise, o usuário pode inserir os resultados em um formulário eletrônico e receber automaticamente um relatório completo por e-mail , o que amplia a aplicabilidade e facilita o monitoramento contínuo das áreas agrícolas. Inovação brasileira sustentável O reconhecimento da FAO reforça o alinhamento do projeto aos quatro pilares globais da organização — melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e melhor vida . A ferramenta contribui diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, sobretudo o ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável) e o ODS 15 (Vida Terrestre) . Além do uso técnico, o KIT SOHMA tem sido aplicado em programas de educação ambiental, projetos de extensão e capacitação de agricultores familiares , fortalecendo a gestão participativa do solo.Por ser portátil e de baixo custo , sua adoção é viável tanto em pequenas propriedades rurais quanto em grandes empreendimentos agrícolas, favorecendo o diagnóstico precoce de problemas relacionados à compactação, erosão e degradação biológica. Segundo informações do portal SOHMA/Esalq , o projeto também busca democratizar o acesso ao conhecimento técnico , promovendo a conservação dos solos como base da produção de alimentos e da segurança hídrica. Fonte: ESALQNET
- Novas leis sancionadas em prol da agricultura familiar e de políticas de segurança alimentar no Brasil
Cinco novas legislações foram sancionadas para ampliar o apoio à agricultura familiar, garantir a oferta de alimentos saudáveis e promover a segurança alimentar e nutricional no país. As medidas representam avanço na consolidação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento rural sustentável. Foto: Agência Gov O conjunto de leis reforça programas estratégicos como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) , o Plano Safra da Agricultura Familiar , o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) — pilares fundamentais na estrutura da produção e distribuição de alimentos no Brasil. Políticas de Estado e segurança jurídica Uma das leis transforma o Pronaf e o Plano Safra da Agricultura Familiar em políticas de Estado , garantindo estabilidade institucional e segurança jurídica para agricultores familiares, assentados, comunidades tradicionais e quilombolas. Essa formalização impede a descontinuidade dos programas, assegurando sua manutenção independentemente de mudanças administrativas. Além disso, a legislação recria o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf) , que passa a atuar como instância permanente de diálogo e planejamento estratégico. O texto define diretrizes relacionadas à segurança alimentar, inclusão social, transição agroecológica e redução das desigualdades regionais , reforçando a integração entre produção sustentável e desenvolvimento econômico local. De acordo com dados do setor, mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos por agricultores familiares. A consolidação dessas políticas públicas representa, portanto, não apenas um reconhecimento do papel socioeconômico desse segmento, mas também uma base sólida para o fortalecimento da segurança alimentar nacional. Apoio a municípios em situação de emergência Outra medida aprovada estabelece a prioridade na aquisição e distribuição de alimentos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para municípios em situação de emergência ou calamidade pública. A iniciativa busca garantir renda aos produtores familiares e assegurar o acesso à alimentação adequada para populações em vulnerabilidade, especialmente em períodos de estiagens, enchentes ou desastres ambientais. O dispositivo dá respaldo legal às ações já conduzidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e permitirá respostas mais rápidas e eficientes em momentos críticos. Sancionamento de Projetos de Lei que alcaçam o Pronaf, o Plano Safra, o SISAN, o PNSAN, dentre outros. Fonte: CanalGov Merenda escolar e incentivo à produção local O novo marco do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) eleva de 30% para 45% o percentual mínimo de compra de alimentos provenientes diretamente da agricultura familiar e do empreendedor rural . Essa ampliação deve gerar R$ 800 milhões adicionais em investimentos, ampliando o mercado e a renda de pequenos produtores. A medida também incentiva o consumo de alimentos regionais e naturais, reduzindo a presença de ultraprocessados nos cardápios das escolas públicas. A iniciativa estimula a diversificação agrícola , a organização cooperativa e a valorização de alimentos típicos brasileiros , além de contribuir para a educação alimentar de milhões de estudantes. Indicadores de vulnerabilidade Uma das leis altera o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) , incorporando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como critério para priorização de recursos da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) . Com isso, municípios de menor IDH — onde a vulnerabilidade alimentar e nutricional é mais acentuada — receberão atenção prioritária. A mudança permite que as ações de segurança alimentar sejam orientadas por indicadores técnicos, garantindo maior efetividade e justiça na aplicação dos recursos públicos. Redução do desperdício O pacote legislativo inclui também a criação da Política Nacional de Combate à Perda e ao Desperdício de Alimentos (PNCPDA) , que institui o Selo Doador de Alimentos . O selo reconhece e facilita a doação de produtos em vias de descarte, desde que estejam em condições adequadas para o consumo. A iniciativa busca diminuir o desperdício de alimentos , um problema que, segundo a FAO, ainda afeta cerca de 30% da produção mundial . A presente política reforça o compromisso nacional com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 da ONU — consumo e produção responsáveis — e incentiva empresas, cooperativas e instituições sociais a atuarem conjuntamente no combate à fome. Essas iniciativas dialogam com ações de pesquisa e inovação conduzidas por universidades, institutos federais e centros de estudos como o Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) , que também atua no desenvolvimento de projetos voltados à segurança alimentar, eficiência produtiva e sustentabilidade rural. Fonte: Agência GOV
- Estudo aponta cultivo de plantas em cidades para combate à fome e às mudanças climáticas
Pesquisadores da Esalq/USP analisam como o forrageamento urbano pode contribuir simultaneamente para o acesso à alimentação saudável e para a adaptação das cidades às mudanças climáticas . Cultivos para produção de recursos alimentares podem se tornar aliados estratégicos para cidades mais sustentáveis e resilientes – Foto: Gehard Waller/Esalq Do laboratório à cidade A pesquisa, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, sob orientação do professor Demóstenes Ferreira Silva Filho, constitui-se de três etapas complementares: Uma revisão internacional de estudos sobre o tema; Uma pesquisa de campo com mais de 300 moradores da cidade de São Paulo ; Entrevistas com gestores e servidores públicos de órgãos ambientais em diferentes níveis de governo. Os resultados indicaram que mais de 60% dos entrevistados já haviam praticado forrageamento , e cerca de 30% declararam fazer isso com o objetivo de complementar a alimentação familiar . Eduardo Ribas – Foto: ResearchGate “O forrageamento urbano é uma prática emergente no mundo e pode se tornar um aliado estratégico para cidades mais sustentáveis e resilientes. As árvores podem oferecer muito mais do que sombra e beleza: elas também podem ajudar a colocar comida no prato das pessoas.” explica o engenheiro florestal Eduardo Ribas, autor do projeto. O estudo também observou que o conhecimento tradicional sobre plantas comestíveis, antes comum nas gerações mais antigas, está se perdendo nos centros urbanos. “Há uma correlação direta entre renda e alimentação. Para famílias com menos recursos, coletar plantas pode ser um complemento importante”, explica o pesquisador. Cidade e natureza Em Piracicaba, exemplos práticos mostram como o forrageamento pode transformar o cotidiano. As moradoras Maria Muniz e Maria Aparecida cuidam de uma área verde próxima às suas casas, cultivando mais de 30 espécies de plantas — entre comestíveis, medicinais e aromáticas, como guaco, ora-pro-nóbis, melissa, manga, mamão e graviola. Além de produzirem parte de seus alimentos, compartilham os frutos com os vizinhos, contribuindo para o senso comunitário e para a autonomia alimentar local . Essas experiências refletem o potencial do forrageamento urbano não apenas como uma prática ecológica, mas também como um instrumento de inclusão social e de educação ambiental . Planejamento urbano e políticas públicas O estudo sugere que o forrageamento urbano seja incorporado às políticas de planejamento das florestas urbanas , com diretrizes que aliem sustentabilidade, segurança alimentar e conservação ambiental . Entre os principais desafios apontados estão: a falta de informação sobre espécies comestíveis seguras para consumo; a necessidade de um planejamento técnico de plantio e manutenção ; e a educação ambiental como ferramenta essencial para formar cidadãos capazes de reconhecer e manejar essas espécies. “Educar é o primeiro passo. É preciso ensinar a população a identificar as plantas que podem ser usadas de forma segura e planejar o espaço urbano para que elas estejam disponíveis sem gerar riscos”, destaca Ribas. Conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável A pesquisa recebeu apoio da Capes e está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU , especialmente o ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável e o ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis . Além disso, o trabalho dialoga com diretrizes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) , que destacam a importância das soluções baseadas na natureza e da resiliência urbana frente às mudanças climáticas. “Vivemos em um país majoritariamente urbano, e pensar como as árvores e as plantas das cidades podem nos ajudar a lidar com adversidades climáticas, ao mesmo tempo em que ampliam o acesso à alimentação, é extremamente relevante”, conclui Ribas. A tese “Forrageamento urbano: perspectivas para políticas públicas brasileiras” está disponível no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Esalq/USP. Fonte: Jornal da USP
- Anuário destaca avanços em ações para enfrentar a insegurança alimentar no Brasil
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Combate à Fome lançou seu Anuário 2024-2025 , publicação que reúne as principais atividades desenvolvidas no segundo ano de vigência do projeto. Lançamento de seu anuário 2024-2025 Fonte: fsp.usp.br Coordenado pela professora Dirce Maria Lobo Marchioni , do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o documento apresenta não apenas um balanço, mas também um registro estratégico das pesquisas, eventos acadêmicos, iniciativas de popularização da ciência e ações de transferência de conhecimento para diferentes setores da sociedade. Disponível online, o anuário reflete o caráter transdisciplinar e colaborativo do INCT, reafirmando seu compromisso com a construção de soluções para a fome e a insegurança alimentar no Brasil. Alcance nacional e internacional O INCT Combate à Fome integra a rede de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, que atuam em áreas estratégicas para o país. Seu trabalho envolve 61 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, dedicados a 57 objetivos e 96 metas . O foco é propor políticas públicas e estratégias para a realização do direito humano à alimentação adequada , a partir de uma abordagem sistêmica dos alimentos e com o uso de inteligência artificial (IA) como ferramenta de análise. Publicação traz pesquisas de grupo de estudos sobre combate à fome – Foto: Andre Borges/Agência Brasília Eixos temáticos de atuação As atividades foram organizadas em cinco eixos principais: Saúde e Nutrição, Políticas Públicas, Comunicação e Difusão, Inteligência Artificial e Cadeias de Valor : Saúde e Nutrição : destaque para nove artigos e nove capítulos de livros, abordando desde merenda escolar até hortas urbanas e cozinhas solidárias. Entre os eventos, dois seminários reuniram pesquisadores de peso, como Paulo Artaxo e Renato Maluf , que discutiram mudanças climáticas e acesso à alimentação no contexto amazônico. Políticas Públicas : concluiu-se um estudo sobre a análise de sentimento em reportagens relacionadas ao Programa Bolsa Família (2003–2023) , além de mapeamentos acadêmicos e um curso de extensão sobre mídias sociais aplicadas ao tema. Comunicação e Difusão : parcerias estratégicas ampliaram o impacto do instituto. Uma das mais relevantes foi com a Comunidade Quilombola Mocambo (Sergipe) e pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe, em iniciativas de Educomunicação voltadas à segurança alimentar. Inteligência Artificial : avanços técnicos permitiram automatizar processos de integração de dados heterogêneos, facilitando pesquisas sobre nutrição, insegurança alimentar e diversidade de alimentos. Também foi desenvolvido um modelo de IA generativa para formular soluções de cardápios escolares considerando sazonalidade, diferenças regionais e mudanças climáticas. Cadeias de Valor : estudos recentes analisaram os gastos com merenda escolar a partir de dados do Tribunal de Contas e de planos plurianuais municipais. Outro ponto em desenvolvimento é a pesquisa sobre desperdício de alimentos , incluindo colaborações internacionais em nível de iniciação científica e doutorado. Instrumento de transformação O anuário vai além da simples divulgação de resultados. Ele funciona como um instrumento de memória e sistematização , garantindo visibilidade às ações realizadas e orientando os próximos passos do instituto. Ao reunir pesquisas científicas, formações acadêmicas, projetos de extensão, podcasts, vídeos e relatórios técnicos, a publicação evidencia como a ciência brasileira pode responder a desafios estruturais , como a fome, ao mesmo tempo em que se conecta com políticas públicas e iniciativas locais de impacto social. 📌 O Anuário INCT Combate à Fome (2024-2025) pode ser acessado neste link . Fonte: Jornal da USP
- Bactéria da Caatinga se torna aliada no desenvolvimento de bioinsumos contra a seca
Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (MG) descobriram uma bactéria nativa da Caatinga capaz de ajudar plantas a resistirem melhor à escassez de água. Embrapa milho e sorgo (MG) Créditos: Embrapa Uma bactéria isolada de solos áridos do Ceará acaba de virar o ingrediente principal de uma nova tecnologia contra a seca que promete melhorar o desempenho das lavouras brasileiras. Intitulada Hydratus , isolada em condições naturais de clima árido, está em fase de testes e pode se transformar em bioinsumo agrícola para apoiar culturas expostas a longos períodos de seca. O avanço representa mais um passo dentro da estratégia de aproveitamento da biodiversidade brasileira para criar soluções sustentáveis no campo, com potencial de reduzir perdas e ampliar a resiliência de sistemas produtivos. Da Caatinga para o campo O microrganismo identificado atua estimulando mecanismos fisiológicos que aumentam a tolerância das plantas ao estresse hídrico. De acordo com os pesquisadores, a bactéria foi selecionada após análises de diferentes linhagens resistentes às condições extremas da Caatinga, bioma que cobre cerca de 10% do território brasileiro e enfrenta temperaturas elevadas, chuvas irregulares e solos pobres em nutrientes. O Hydratus foi formulado para proteger as plantas em condições de escassez hídrica e ainda estimular seu crescimento. Créditos: Embrapa A perspectiva é que, aplicado como bioinsumo, o microrganismo permita ao agricultor reduzir perdas produtivas em anos de estiagem severa, ao mesmo tempo em que diminui a dependência de insumos convencionais. Estudos em áreas comerciais mostraram aumento de até 7,7 sacas por hectare na produção de milho e 4,8 sacas por hectare em lavouras de soja tratadas com o bioproduto. Como funciona a bactéria contra a seca O Hydratus foi concebido após oito anos de pesquisas que começaram em 2017. Das 414 estirpes bacterianas isoladas em áreas de baixa precipitação no Ceará, 28 mostraram resistência em ambientes com pouca água. A estirpe B. subtilis 1A11 destacou-se pela produção de exopolissacarídeos (EPS) , moléculas que formam uma camada protetora ao redor das células, reduzindo a perda de água das plantas e favorecendo sua sobrevivência. Além disso, a bactéria é capaz de estimular a produção de fitohormônios , reguladores naturais que alteram a morfologia das plantas, ampliando o crescimento radicular. Esse efeito garante raízes mais profundas e eficientes na absorção de nutrientes e água em solos secos. Ensaios em hidroponia e sob estresse osmótico confirmaram o aumento do comprimento das raízes, da atividade fotossintética e do acúmulo de biomassa nas plantas tratadas. Experimentos conduzidos com a bactéria Hydratus Créditos: Embrapa Outro diferencial técnico está na formulação inovadora desenvolvida pela Bioma, que concentra um elevado número de células bacterianas associadas a agentes protetores. Essa combinação garante maior sobrevivência do microrganismo no solo e prolonga a vida útil do produto nas prateleiras. Agricultura sob mudanças climáticas As instabilidades climáticas — como irregularidade das chuvas e aumento da frequência de secas prolongadas — colocam em risco a segurança alimentar. Segundo dados do INPE , enquanto algumas regiões brasileiras registraram aumento das chuvas, outras enfrentam redução drástica, cenário que afeta diretamente a produtividade agrícola. Nesse contexto, bioinsumos como o Hydratus despontam como alternativas estratégicas. Ao aumentar a eficiência do uso da água e garantir ganhos de produtividade, eles oferecem suporte direto ao agricultor. Além disso, reduzem a necessidade de insumos químicos e irrigação, contribuindo para uma agricultura de baixo carbono . Bioinsumos em pauta global O lançamento do Hydratus ocorre em um momento simbólico: o produto será apresentado como caso de sucesso brasileiro na COP 30 , em Belém (PA), onde a Embrapa destacará os avanços do país em bioinovação agrícola. O Brasil já ocupa posição de liderança mundial em bioinsumos. Tecnologias como inoculantes fixadores de nitrogênio para soja economizam bilhões de dólares em fertilizantes importados e reduzem emissões de gases de efeito estufa. Agora, soluções como o Hydratus expandem esse protagonismo ao integrar também a adaptação às mudanças climáticas. Histórico de inovação da Caatinga O Hydratus não é o primeiro bioinsumo desenvolvido a partir da biodiversidade da Caatinga. Em 2021, a Embrapa Meio Ambiente apresentou o Auras , formulado a partir da bactéria Bacillus aryabhattai isolada das raízes do mandacaru, cacto símbolo do semiárido. O produto também atua na promoção de crescimento vegetal em condições de seca e se consolidou como o primeiro registrado no Brasil com essa finalidade. Fonte: Embrapa
- Mercado de bioinsumos no Brasil pode alcançar R$ 15,9 bilhões até 2030
O mercado de bioinsumos agrícolas segue em plena expansão no Brasil e deve atingir R$ 15,9 bilhões em 2030, segundo projeções recentes. O crescimento reflete a busca cada vez maior por alternativas sustentáveis aos defensivos químicos - Créditos: Green Place O que são bioinsumos? Os bioinsumos englobam microrganismos vivos, extratos vegetais e outros compostos naturais aplicados na produção agrícola. Em contraste com defensivos químicos convencionais, eles atuam de forma mais específica, com menor impacto ambiental e contribuição direta para a saúde do solo. A popularização desses produtos no Brasil está ligada a três fatores principais: Busca por sustentabilidade – Pressão de mercados consumidores internacionais e compromissos ambientais do país exigem cadeias produtivas de baixo carbono. Redução de custos – Os bioinsumos podem diminuir o uso de fertilizantes e pesticidas importados, cujos preços variam com crises geopolíticas e câmbio. Inovação tecnológica – Instituições como a Embrapa e universidades brasileiras lideram pesquisas para validar e ampliar o uso de microrganismos em diferentes culturas. Crescimento no campo Atualmente, estima-se que mais de 80 milhões de hectares já utilizem algum tipo de bioinsumo no Brasil. A expansão é notável em culturas como soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e café. Além dos ganhos produtivos, pesquisas apontam que a utilização desses insumos contribui para o sequestro de carbono no solo , aumenta a biodiversidade microbiana e reduz a dependência de insumos sintéticos — fatores que dialogam diretamente com as exigências globais de descarbonização da agricultura. Exemplos de aplicação Entre os principais grupos de bioinsumos já disponíveis estão: Inoculantes bacterianos – utilizados em leguminosas, como a soja, para promover a fixação biológica do nitrogênio. Biodefensivos – produtos à base de vírus, fungos e bactérias que combatem pragas como a lagarta-do-cartucho e a mosca-branca. Biofertilizantes – compostos orgânicos que estimulam o desenvolvimento radicular e a absorção de nutrientes. Em grandes propriedades, os bioinsumos têm sido integrados a sistemas de produção de alta escala. Já em pequenas e médias propriedades, são vistos como alternativa viável para reduzir custos, aumentar a produtividade e diversificar a produção. Perspectivas para 2030 Se as projeções forem confirmadas, o Brasil consolidará sua posição como líder mundial no mercado de bioinsumos , tanto em área de aplicação quanto em volume econômico movimentado. A expectativa é que, até 2030: O portfólio de bioinsumos disponíveis seja ainda mais diverso; A integração com sistemas como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) seja intensificada; A agricultura brasileira se torne referência global em bioeconomia e sustentabilidade . Contudo, o crescimento do setor deve ser acompanhado de investimentos em regulamentação, certificação e assistência técnica , para garantir segurança, eficácia e acessibilidade a agricultores de diferentes perfis. Fonte: Correio do Povo
- Etanol de milho ganha protagonismo no Brasil, responsável por cerca de 20% da produção nacional
Nos últimos anos, a matriz de biocombustíveis brasileira tem passado por uma transformação silenciosa, mas de grande impacto: o avanço do etanol de milho . Antes associado à produção norte-americana, o combustível ganhou relevância no cenário energético brasileiro. Créditos: Freepik Em 2024, a Impasa tornou-se a maior produtora nacional de etanol, com 3,7 bilhões de litros fabricados a partir do milho — superando a Raízen, tradicional líder no setor sucroenergético. A trajetória chama atenção: em 2020, a produção brasileira de etanol de milho girava em torno de 2 bilhões de litros. Apenas quatro anos depois, o volume ultrapassou 7,5 bilhões de litros, crescendo a uma taxa média de 33% ao ano . Hoje, o produto já responde por cerca de 20% de todo o etanol consumido no país , com expectativa de atingir 30% em pouco tempo. A entrada da Petrobras no setor Esse movimento não passou despercebido pela Petrobras , que anunciou a intenção de retomar sua participação no mercado de biocombustíveis, abandonado pela estatal na década passada. De acordo com fontes de mercado, as negociações em andamento miram justamente as líderes do segmento, Inpasa e FS Bioenergia , responsáveis por 80% do etanol de milho produzido no Brasil. Inpasa tornou-se a principal produtora de etanol no Brasil. Créditos: RevistaOE A estratégia reflete não apenas o crescimento vertiginoso da modalidade, mas também uma vantagem competitiva: o custo de produção do etanol de milho pode ser até 40% menor do que o da cana-de-açúcar , em grande parte devido aos subprodutos gerados durante o processo. DDG e óleo de milho O destaque entre os subprodutos da produção de etanol a partir do milho é o DDG (Dried Distillers Grains) , grãos secos de destilaria resultantes da fermentação do milho. Com 30% de proteína , contra 8% do grão in natura, o DDG é altamente valorizado como ração para bovinos, suínos e aves, criando uma conexão direta entre o setor de biocombustíveis e a pecuária. Grandes empresas de alimentos, como a BRF, já utilizam o insumo em suas unidades no Centro-Oeste. Com um teor quase quatro vezes maior de proteínas que o milho in natura, o DDG mostra-se uma ótima alternativa para a alimentação animal. Créditos: Nutripura Outro derivado de peso é o óleo de milho , extraído durante o processo de fabricação do etanol. Esse óleo é amplamente utilizado para a produção de biodiesel , agregando valor à cadeia e diversificando as fontes de energia renovável no país. Integração de safras e sinergia agrícola A ascensão do etanol de milho no Brasil está intimamente ligada ao modelo de produção agrícola adotado no Centro-Oeste , onde a cultura é frequentemente plantada na entressafra da soja. Conhecida como safrinha , essa prática otimiza o uso da terra: após a colheita da soja no verão, o milho é semeado no outono, aproveitando condições de luminosidade adequadas e garantindo produtividade. O resultado é um círculo virtuoso : a demanda das usinas garante mercado para o milho safrinha, enquanto a maior oferta do grão estimula novos investimentos em unidades produtoras de etanol. Atualmente, o Brasil conta com 24 usinas de etanol de milho em operação e mais de 30 projetos anunciados para os próximos anos. Um combustível estratégico Apesar do crescimento acelerado do milho, o etanol de cana segue essencial, principalmente por integrar a produção de açúcar, que responde por metade das exportações mundiais do produto. No entanto, o avanço do etanol de milho fortalece a segurança energética brasileira e diversifica a matriz de combustíveis renováveis. É alta a perspectiva de aumento no teor de etanol na gasolina nos próximos anos. Vale lembrar que, por regulamentação, a gasolina vendida no Brasil já contém 30% de etanol anidro em sua composição, percentual que pode chegar a 35% futuramente. Isso garante demanda constante, abrindo espaço para que milho e cana coexistam como matérias-primas complementares. Perspectivas Com produção crescente, custos competitivos e múltiplas utilidades dos subprodutos, o etanol de milho se consolida como protagonista no setor energético brasileiro. O interesse da Petrobras apenas confirma o potencial do segmento, que une ganhos econômicos, aproveitamento agrícola eficiente e contribuição para a transição energética sustentável . O Brasil, que já é referência mundial em biocombustíveis, pode estar diante de uma nova etapa: a consolidação de um modelo que une etanol de cana e de milho , fortalecendo sua posição no mercado global de energias limpas. Fonte: InvestNews
- Microrganismos da Amazônia revelam potencial agrícola e farmacêutico
Pesquisas destacam actinobactérias amazônicas capazes de gerar bioinsumos agrícolas e compostos antibacterianos inéditos A biodiversidade amazônica possui papel estratégico para a ciência e para o desenvolvimento sustentável. Créditos: Freepik. Pesquisas conduzidas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) demonstraram que microrganismos da floresta, especialmente as actinobactérias , apresentam grande potencial para aplicações na agricultura e na área farmacêutica. Naydja Moralles Maimone - Créditos: LinkedIn A bióloga e doutora em microbiologia agrícola, Naydja Moralles Maimone , dedicou sua tese ao estudo do perfil metabólico, genômico e antimicrobiano de diversas linhagens isoladas na Amazônia brasileira. Entre elas, duas se destacaram pela versatilidade e relevância: Streptomyces sp. AM25 – com grande potencial para o desenvolvimento de bioinoculantes. Nos experimentos, essa linhagem promoveu o crescimento de plantas de milho e produziu metabólitos com atividade antifúngica, mostrando-se promissora para uso em sistemas agrícolas sustentáveis. Streptantibioticus sp. AM24 – considerada uma produtora prolífica de metabólitos de estruturas pouco usuais, incluindo aminoácidos modificados . Dessa linhagem foram isolados dois compostos inéditos da classe das acidifilamidas , sendo que um deles apresentou uma modificação nunca antes registrada em metabólitos produzidos por microrganismos. Além disso, demonstrou atividade antibacteriana significativa , reforçando sua aplicabilidade no desenvolvimento de novos fármacos. Agricultura sustentável e controle de doenças Os resultados do estudo evidenciam o potencial da microbiota amazônica na geração de bioinsumos agrícolas , que podem reduzir a dependência de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas. Em culturas como o milho, a aplicação de inoculantes derivados dessas bactérias pode aumentar a produtividade ao mesmo tempo em que melhora a saúde do solo, favorecendo a agricultura regenerativa. Microbioma amazônico é uma fonte ainda pouco explorada de inovação para a agricultura sustentável (imagem: Juan Lopes Teixeira/Esalq-USP) De forma complementar, a pesquisa também amplia horizontes para a área farmacêutica. A descoberta de compostos inéditos abre espaço para a criação de novos antibióticos , algo especialmente relevante diante da crescente resistência bacteriana. Segundo a pesquisadora, essas descobertas reforçam o valor estratégico da biodiversidade brasileira: “Contribuímos para enaltecer o enorme potencial que a microbiota amazônica possui de gerar ativos úteis para a nossa sociedade” , afirma Naid Morales. Os trabalhos desenvolvidos na USP fazem parte de uma linha crescente de estudos que buscam transformar a riqueza natural da Amazônia em soluções inovadoras para a agricultura sustentável e para a saúde global . O desafio, agora, está em ampliar os testes de campo e estabelecer parcerias que permitam transformar os resultados científicos em tecnologias acessíveis a produtores rurais e à indústria farmacêutica. Fonte: FAPESP
- Sensores biodegradáveis em plantas permitem acompanhar em tempo real a saúde das lavouras
Tecnologia criada na USP alia monitoramento preciso e sustentabilidade, com potencial para apoiar sistemas de irrigação mais eficientes no Brasil Tecnologia visa solucionar o desafio de alimentar uma população de 9,8 bilhões de habitantes até 2050 - Créditos: Paulo Raymundo Pereira Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram sensores biodegradáveis ultrafinos capazes de acompanhar, em tempo real, a saúde das plantas. O avanço permite monitorar parâmetros fisiológicos diretamente nas folhas, trazendo novas possibilidades para a agricultura tropical. Segundo o grupo de pesquisa, a grande novidade está na junção de três características principais: os sensores são flexíveis , sem fio e biodegradáveis . Isso significa que podem ser aplicados diretamente nas plantas sem comprometer seu desenvolvimento, transmitindo dados de maneira contínua para sistemas digitais de monitoramento e, ao final de seu ciclo, se decompõem naturalmente no ambiente sem gerar resíduos. Funcionamento da tecnologia Os dispositivos se assemelham a filmes transparentes que aderem às folhas. Com eles, é possível medir variáveis como temperatura, níveis de água e trocas gasosas. Essas informações fornecem uma visão detalhada sobre o estado fisiológico da cultura, ajudando a identificar precocemente estresses hídricos, deficiências nutricionais ou ataques de pragas. Além da precisão, os sensores são de baixo custo, já que foram produzidos com materiais abundantes e de origem natural. Isso amplia seu potencial de aplicação em larga escala, inclusive por pequenos e médios produtores, que muitas vezes enfrentam limitações financeiras para investir em tecnologias digitais de monitoramento. De acordo com os pesquisadores, a adoção desse tipo de tecnologia pode transformar a maneira como a produção agrícola é gerida, oferecendo aos agricultores informações que orientam desde o momento da irrigação até ajustes no uso de fertilizantes. Impactos esperados O Brasil é um dos países com maior diversidade de sistemas de cultivo e responde por grande parte da produção mundial de grãos, frutas e fibras. Nesse contexto, soluções que aumentem a precisão e reduzam desperdícios são estratégicas. Sensor usa materiais biodegradáveis e sustentáveis, substituindo os plásticos tradicionais - Créditos: Jornal da USP Os sensores podem beneficiar, por exemplo, cadeias produtivas como a soja, o milho, o café e a cana-de-açúcar, em que variações de água e nutrientes têm impacto direto sobre produtividade e qualidade final. Além disso, a simplicidade da aplicação pode facilitar sua disseminação em áreas de agricultura familiar, onde há grande demanda por ferramentas de baixo custo e alto impacto. Outro ponto relevante é a sustentabilidade: ao serem totalmente biodegradáveis, os sensores não deixam resíduos no solo nem exigem processos complexos de descarte, o que se alinha às metas globais de redução de poluição plástica e uso racional de insumos. Integração com a agricultura irrigada Embora a inovação seja um marco em si mesma, seu potencial se amplia quando relacionada à agricultura irrigada , eixo estratégico de pesquisa do Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) . Estudos conduzidos pela própria USP apontam que o Brasil utiliza apenas cerca de 10% do seu potencial irrigável , mas poderia expandir a área irrigada em até dez vezes sem comprometer os recursos hídricos, desde que adotados sistemas mais eficientes. Nesse contexto, sensores como os recém-desenvolvidos podem atuar como aliados decisivos. Ao indicar a necessidade real de água de cada planta , eles permitem um uso mais racional dos sistemas de irrigação, reduzindo perdas e melhorando a eficiência hídrica. Essa integração entre tecnologia digital e irrigação sustentável pode representar um salto importante para a segurança alimentar e a adaptação da agricultura às mudanças climáticas. Fonte: Jornal da USP
- Encontro de Integração reúne equipes dos Centros de Estudos da USP em Piracicaba
Visita à ESALQ, CENA e CCARBON promoveu trocas de experiências e debateu melhorias nos fluxos administrativos Representantes dos nove Centros de Estudos e da Reitoria da USP compareceram no evento. Foto: Luciana Spinelli No dia 9 de setembro de 2025 , funcionários de diversos Centros de Estudos da Universidade de São Paulo (USP) participaram de uma atividade de integração nas dependências da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP) , em Piracicaba. O encontro teve como objetivo aproximar equipes, promover a troca de experiências e discutir pontos de aprimoramento nos processos administrativos comuns às unidades. Programação da visita A agenda começou com uma recepção na Diretoria da ESALQ , conduzida pela Sra. Sandra Vello , que apresentou as dependências do prédio central e promoveu um momento de diálogo entre os participantes. Em seguida, o grupo foi recebido no Gabinete da Prefeitura do Campus “Luiz de Queiroz” , pela Sra. Maria Estela Bigotto , que apresentou a estrutura do setor e ofereceu um coffee-break de boas-vindas. Às 10h , os visitantes realizaram um tour pelo campus, passando pela sede do Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) . Logo depois, ocorreu a visita ao CENA/USP , conduzida pelo Diretor, Prof. Ernani Pinto Junior . Ele apresentou a estrutura do centro e destacou suas linhas de pesquisa, que abrangem temas como ciclagem de nutrientes no solo, bioenergia, radioisótopos aplicados à agricultura, mudanças climáticas, controle de pragas e segurança alimentar . Recepção feita pelo Prof. Ernani Pinto Junior, Diretor do CENA/USP, e por sua equipe. Foto: Luciana Spinelli O professor explicou como o CENA se consolidou como uma das principais referências na aplicação da energia nuclear e da biotecnologia a favor da agricultura sustentável e como as pesquisas da instituição dialogam com demandas urgentes da sociedade, como a redução de emissões de gases de efeito estufa e o aumento da produtividade agrícola em bases sustentáveis . Ele ainda destacou parcerias já existentes com Centros de Estudos como o CEAS e o CCARBON , reforçando a importância da atuação integrada. No período da tarde, os participantes se reuniram na nova sede administrativa do CCARBON , inaugurada recentemente, em Piracicaba. O espaço foi inaugurado em evento realizado em junho de 2025, reunindo autoridades acadêmicas, representantes do setor produtivo e do governo. Pautas importantes foram debatidas em reunião que aconteceu na sede do CCARBON/USP. Foto: Luciana Spinelli Durante a visita, além da apresentação da estrutura da nova sede, os analistas dos Centros de Estudos participaram de uma reunião de trabalho. A pauta incluiu sugestões para o aperfeiçoamento de fluxos administrativos , em áreas como cursos de extensão, convênios e execução orçamentária. O encontro foi encerrado com um coffee-break, oferecido pelo CCARBON. Participantes O evento contou com a presença de representantes dos nove Centros de Estudos e da Reitoria da USP: Luciana Spinelli – Reitoria/USP Marcelo Melo – CCARBON/USP Lucila Colichio – CCARBON/USP Alexandre Queiroz – STAC/USP Iolanda Oliveira – CEAS/USP Lucas Youssef – C2PO/USP Érica Watanabe – CIAAM/USP Luis Moreira – RCGI/USP Sheila Tanaka – USP-China Victor Luccas Moura – USPproCLIMA Carolina Martoni – COI/USP Integração e cooperação O encontro reforçou o compromisso da USP em integrar seus Centros de Estudos , ampliando o diálogo entre equipes administrativas e fortalecendo a cooperação entre projetos de pesquisa e inovação. A atividade mostrou como a integração entre ensino, pesquisa e gestão administrativa é fundamental para garantir que as unidades da USP continuem entregando conhecimento de excelência e soluções inovadoras à sociedade.
- Novo mapa detalhado evidencia potencial do solo brasileiro para estocar carbono
Estudo da USP aponta que práticas agrícolas sustentáveis podem transformar o Brasil em protagonista global na mitigação das mudanças climáticas Dados coletados por seis anos, processadas com aprendizado de máquina, estimam atributos do solo de áreas sem amostras diretas - Imagem: Cedida pelo pesquisador Um mapa de alta resolução elaborado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) traz informações inéditas sobre a capacidade dos solos brasileiros de reter carbono. A pesquisa reforça a urgência de expandir práticas agrícolas sustentáveis que, além de manterem a produtividade, possam contribuir de forma decisiva para a mitigação das mudanças climáticas. O solo como aliado climático O estudo mostra que os solos do país apresentam grande potencial de sequestro de carbono , sobretudo em áreas agrícolas. A retenção desse elemento no solo não apenas reduz a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, como também melhora a fertilidade e a resiliência dos sistemas produtivos. Raul Roberto Poppiel - Foto: ResearchGate De acordo com os pesquisadores, a adoção de práticas como plantio direto, uso de culturas de cobertura, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e recuperação de pastagens degradadas pode ampliar significativamente o estoque de carbono. Essas técnicas já vêm sendo discutidas em projetos nacionais e internacionais voltados à agricultura de baixo carbono. “O estudo teve como objetivo elaborar o primeiro mapa global de solos em alta resolução, nesse caso, 90 metros, combinando observações de satélite, dados de campo e inteligência artificial”, afirma o professor Raul Roberto Poppiel, um dos coordenadores do projeto. Agricultura sob análise O mapeamento indica que áreas com manejo intensivo e pouco diversificado tendem a liberar mais carbono do que estocar. Isso ocorre porque a remoção contínua da cobertura vegetal e o uso excessivo de insumos químicos reduzem a matéria orgânica do solo. Por outro lado, regiões que adotam sistemas integrados e práticas conservacionistas apresentam saldo positivo , acumulando carbono no solo e gerando benefícios ambientais e econômicos. Relevância para políticas públicas e mercado de carbono Além de seu valor científico, o mapa pode servir de base para a formulação de políticas públicas de agricultura sustentável. O detalhamento em alta resolução permite identificar áreas prioritárias para recuperação ambiental e orientar investimentos em mercados de carbono , que vêm crescendo no Brasil. Com dados mais precisos, torna-se possível certificar práticas agrícolas que de fato contribuem para reduzir emissões de gases de efeito estufa e valorizar produtores comprometidos com sistemas regenerativos. Conexões com pesquisas em andamento A publicação também dialoga com iniciativas mais amplas de centros de pesquisa da USP, como o STAC , que desenvolve diagnósticos e tecnologias para ampliar a sustentabilidade agrícola, com o CCARBON que vem desenvolvendo estudos para mapear as pegadas de carbono na agricultura e o RCGI , voltado a soluções em mitigação de gases de efeito estufa. Todos os centros reforçam que a integração entre ciência, políticas públicas e setor produtivo será essencial para que o Brasil explore seu potencial como líder mundial em estratégias de baixo carbono. Fonte: Jornal da USP
- Conectividade avança no campo e abre caminho para um agro mais sustentável
Grandes produtores e iniciativas estratégicas ampliam o acesso à internet no meio rural, enquanto projetos de pesquisa e inclusão buscam levar benefícios também a pequenas propriedades Números avançam, mas conectividade ainda é gargalo no Brasil - Foto: Freepik. A expansão da internet no campo está deixando de ser um desafio distante para se tornar realidade em muitas regiões do Brasil. O avanço tem sido puxado principalmente por grandes produtores rurais e empresas do agronegócio, que reconhecem na conectividade uma ferramenta essencial para a gestão produtiva, a adoção de tecnologias digitais e a inserção competitiva do país no cenário global. Segundo dados recentes, quase 85% dos estabelecimentos rurais já possuem algum nível de conexão , seja por meio de redes móveis ou soluções de satélite. Esse crescimento, no entanto, ainda é desigual: propriedades de grande porte concentram a maior parte dos investimentos, enquanto agricultores familiares e regiões mais remotas enfrentam limitações de custo, infraestrutura e capacitação. Tecnologia em prol da sustentabilidade O acesso à internet no campo tem sido determinante para práticas que vão desde o monitoramento de máquinas agrícolas até a coleta de dados para uso mais racional de insumos. Sensores de solo, estações meteorológicas digitais, softwares de gestão e plataformas de rastreabilidade dependem de conectividade estável para funcionar de forma integrada. Pesquisas apontam que o uso dessas tecnologias pode gerar redução significativa no consumo de água e fertilizantes , além de aumentar a eficiência energética, contribuindo para metas de sustentabilidade. Um levantamento do Ministério da Agricultura indica que a digitalização pode reduzir em até 20% o custo médio de produção em determinadas cadeias produtivas. Desafios para ampliar o acesso Apesar dos avanços, o Brasil ainda apresenta grandes lacunas. O Censo Agropecuário do IBGE mostra que mais da metade das pequenas propriedades não têm conexão adequada para operar soluções digitais. Além da distância dos centros urbanos, fatores como a baixa rentabilidade e a falta de políticas públicas direcionadas tornam a conectividade rural um desafio estratégico. Iniciativas como o Programa Norte Conectado , do governo federal, e parcerias público-privadas vêm buscando reduzir essa desigualdade. Empresas de telecomunicações, em conjunto com cooperativas e associações de produtores, estão testando modelos de redes compartilhadas, além do uso de tecnologias alternativas como satélites de baixa órbita (LEO) , capazes de cobrir áreas isoladas com custos mais acessíveis. A visão do STAC O Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) tem destacado que a conectividade rural não é apenas uma questão tecnológica, mas também de inclusão social. Projetos como o Semear Digital , desenvolvidos em parceria com a Embrapa, mostram como a internet pode aproximar pequenos e médios produtores de mercados de carbono e de ferramentas de monitoramento ambiental. Além disso, ressalta-se que a conectividade é essencial para levar conhecimento técnico ao campo, por meio de plataformas de capacitação online, assistências virtuais e extensão digital. Essa infraestrutura pode ser decisiva para ampliar a competitividade da agricultura familiar e promover segurança alimentar em bases sustentáveis . Caminhos para o futuro A conectividade rural será um dos principais eixos de transformação do agronegócio na próxima década. A expectativa é que, com o barateamento das tecnologias digitais e a expansão de redes 5G, pequenos e médios produtores passem a integrar de forma mais efetiva esse movimento. A consolidação da agricultura digital depende, portanto, de um esforço conjunto: investimentos privados, políticas públicas consistentes e iniciativas de pesquisa e extensão que permitam ao Brasil reduzir a desigualdade tecnológica no campo. Fonte: Globo Rural
- Pronaf 30 anos: trajetória, impactos e perspectivas
Programa é celebrado como marco na valorização da agricultura familiar e segue desafiado a se adaptar às novas agendas de sustentabilidade e inclusão Lançamento de e-book gratuíto, durante o evento. Créditos: FEALQ. No último dia 25 de agosto, uma live comemorou os 30 anos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) , instituído em 1995 e hoje consolidado como uma das políticas públicas mais importantes para o campo brasileiro. O encontro marcou também o lançamento do e-book gratuito “Pronaf 30 anos: Uma revolução silenciosa que transforma o campo brasileiro” , reunindo especialistas, pesquisadores e protagonistas da história do programa. Contexto histórico e criação O PRONAF nasceu em um período de crise do crédito rural e abertura econômica, nos anos 1980 e 1990, quando pequenos produtores enfrentaram dificuldades diante da competição ampliada. A mobilização de movimentos sociais como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) , por meio de ações como o Grito da Terra Brasil , pressionou por políticas diferenciadas. A categoria “agricultura familiar” ganhou visibilidade graças ao apoio da academia e de documentos como as Diretrizes de Política Agrária de Desenvolvimento Sustentável (1995) . Dessa articulação emergiu o PRONAF, inicialmente como uma linha de crédito, mas que logo se consolidaria como uma política abrangente e estruturante. Expansão e impactos De política de crédito, o PRONAF se transformou em uma plataforma de políticas integradas. Entre as iniciativas derivadas destacam-se: Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) , que abriram mercados institucionais para a produção familiar; Seguro Garantia-Safra , oferecendo proteção contra perdas; Programa Mais Alimentos , que modernizou e mecanizou a agricultura familiar; Agroamigo , maior programa de microcrédito rural da América Latina, com metodologia de agentes locais e alta taxa de adimplência. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da FAO destacam o PRONAF como elemento-chave na redução da pobreza rural , na diversificação da produção agrícola e na segurança alimentar nacional . Identidade e inclusão Professor Titular do Departamento de Sociologia da UFRGS. Créditos: FEALQ O sociólogo Sérgio Schneider avalia que o PRONAF “construiu a agricultura familiar no Brasil”. O programa deu nome, legitimidade e reconhecimento a um grupo social antes invisível. Outro marco é a participação feminina , impulsionada por linhas de crédito específicas. Hoje, as mulheres representam 75% do público do PRONAF B (microcrédito), fortalecendo a renda e os sistemas de produção em quintais voltados à segurança alimentar. Desafios para o futuro Apesar dos avanços, especialistas apontam desafios: Alinhamento com a agenda climática e ambiental , estimulando agroecologia e bioeconomia; Expansão regional para Norte e Centro-Oeste, com foco em povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais; Ampliação da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para adoção de novas práticas; Simplificação do crédito e adaptação do sistema bancário às especificidades da agricultura familiar. 📊 PRONAF: de 1995 a 2025 Aspectos PRONAF em 1995 (criação) PRONAF em 2025 (30 anos depois) Natureza Linha de crédito específica para pequenos produtores. Programa estruturante com diversas linhas de crédito e políticas complementares. Público-alvo Pequenos agricultores, ainda pouco reconhecidos como categoria. Agricultura familiar consolidada, com identidade e legitimidade social. Volume de recursos Recursos limitados, restritos ao crédito de custeio. Mais de R$ 70 bilhões/ano em linhas de crédito (dados MDA, 2023). Políticas derivadas Não havia complementação além do crédito. PAA, PNAE, Garantia-Safra, Mais Alimentos, Agroamigo, ATER. Reconhecimento da agricultura familiar Categoria invisível ou diluída no conceito de trabalhador rural. Reconhecida como pilar da segurança alimentar do país. Impacto produtivo Baixa escala, dependência de insumos externos e limitada inserção em mercados. Contribui com 70% dos alimentos consumidos no Brasil (FAO/IBGE). Inclusão social Mulheres e jovens praticamente ausentes do crédito. 75% do PRONAF B destinado a mulheres; jovens têm linhas próprias. Segurança alimentar Não havia políticas integradas ao crédito. Programas de compras institucionais garantem mercado e renda. Abrangência geográfica Concentração no Sul e Sudeste. Forte no Nordeste; desafios de expansão para Norte e Centro-Oeste. Desafios Reconhecimento e acesso inicial ao crédito. Sustentabilidade, clima, inovação tecnológica, diversificação e ampliação territorial. 📌 Esse quadro deixa evidente que o PRONAF passou de uma resposta emergencial a um sistema de políticas públicas complexas , com grande peso na economia rural e na segurança alimentar. GPP e STAC O debate sobre políticas públicas no campo encontra ressonância direta na Universidade de São Paulo, especialmente no trabalho do Grupo de Políticas Públicas (GPP/ESALQ/USP) , um dos núcleos de extensão vinculados ao Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) . O GPP se dedica a estudos aplicados de políticas de desenvolvimento rural, com foco em agricultura familiar, segurança alimentar e sustentabilidade . Projetos conduzidos pelo grupo analisam, por exemplo, o impacto do crédito rural, a evolução dos programas de compras públicas de alimentos e as estratégias de combate à fome em diálogo com o Estado e a sociedade civil. O encontro contou com a participação de Valter Bianchini, Sergio Paganini e Simone Ranieri, alguns dos autores da obra. Créditos: FEALQ No âmbito do STAC, esses estudos integram um esforço maior de articulação acadêmica e internacional, que busca soluções tropicais sustentáveis para os grandes desafios globais da agricultura, incluindo a redução de desigualdades sociais , a transição energética e a adaptação às mudanças climáticas . Assim como o PRONAF estruturou uma nova visão para a agricultura familiar no Brasil, o STAC e o GPP atuam hoje como centros de referência na formulação, avaliação e difusão de políticas públicas que garantam a prosperidade do setor em bases sustentáveis. Celebrado como uma “revolução silenciosa” , o PRONAF completa três décadas reconhecido como a política que mais impactou a agricultura familiar no país. Sua permanência e reinvenção são cruciais para os próximos 30 anos, diante dos desafios climáticos, tecnológicos e sociais que se colocam. Fonte : FEALQ
- Agricultura familiar ganha protagonismo em projeto de biocombustíveis da macaúba
Acelen Renováveis iniciou seleção de pequenos agricultores para o cultivo da macaúba , espécie nativa do Brasil considerada estratégica para a produção de biocombustíveis sustentáveis. Frutos da macaúba ( Acrocomia aculeata ). Créditos: Compre Rural Macaúba: potencial energético e socioeconômico A macaúba é reconhecida por sua alta produtividade de óleo, capaz de superar culturas tradicionais como a soja e o dendê. Além do potencial energético, a planta apresenta adaptabilidade a diferentes biomas brasileiros e pode ser cultivada em áreas de pastagens degradadas, sem competir diretamente com a produção de alimentos. Segundo estudos conduzidos pelo Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC/USP) , a domesticação da espécie representa um marco para a agricultura tropical, permitindo ao Brasil aliar produção de energia renovável, geração de renda para agricultores familiares e recuperação ambiental . Agricultura familiar estratégica O projeto coordenado pela Acelen prevê a integração de centenas de pequenos produtores rurais à cadeia produtiva da macaúba. A proposta busca estimular a diversificação agrícola , oferecer contratos de compra garantida e garantir acesso a tecnologia e capacitação técnica . De acordo com a empresa, a inclusão da agricultura familiar é essencial para expandir a oferta de matéria-prima e consolidar o biocombustível de macaúba como alternativa competitiva e sustentável no mercado internacional. Investimentos bilionários Nos últimos anos, a Acelen anunciou investimentos superiores a R$ 12 bilhões no setor de energias renováveis, com foco no cultivo e processamento da macaúba. O projeto também conta com apoio financeiro do BNDES , que reconheceu o potencial estratégico da cultura para gerar empregos, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promover a inserção da agricultura familiar em cadeias de alto valor agregado. Além disso, parcerias com centros de pesquisa como o STAC e instituições de inovação agrícola garantem a base científica necessária para desenvolver sistemas de cultivo eficientes, sustentáveis e economicamente viáveis. Energia limpa e descarbonização Estudos indicam que os biocombustíveis derivados da macaúba podem contribuir significativamente para as metas brasileiras de descarbonização. O óleo extraído da palmeira pode ser utilizado na produção de biodiesel e combustível sustentável para aviação (SAF) , setores considerados estratégicos para a transição energética global. Ao priorizar a recuperação de áreas degradadas, o projeto evita o desmatamento e promove o sequestro de carbono no solo , reforçando o papel do Brasil como protagonista no combate às mudanças climáticas. Perspectivas A iniciativa da Acelen Renováveis em integrar pequenos agricultores ao cultivo da macaúba reforça o alinhamento entre sustentabilidade ambiental, inclusão social e segurança energética . A expectativa é que, nos próximos anos, a cadeia produtiva se expanda e consolide o Brasil como líder no fornecimento de biocombustíveis tropicais de nova geração. Fonte: Globo Rural




















