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Mariangela Hungria é premiada com o Nobel da Agricultura

  • alexandrequeiroz41
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa, foi agraciada com o Prêmio Mundial da Alimentação 2025, conhecido como o “Nobel da Agricultura”, por sua contribuição extraordinária ao desenvolvimento de insumos biológicos que transformaram a produtividade agrícola no Brasil.


Mariangela Hungria
Aos 67 anos, Mariangela tornou-se a quarta brasileira a conquistar o prêmio desde sua criação, em 1986. - Créditos: BBC

A cerimônia de premiação foi realizada em Des Moines, Iowa (EUA), sede da organização internacional World Food Prize Foundation.


“Foram mais de 40 anos acreditando que os biológicos seriam uma solução real e eficiente para a agricultura. Persistência foi o diferencial”, declarou Mariangela à BBC Brasil.

🌱 Inovação com base na natureza: os bioinsumos


Ao longo de sua carreira, Mariangela liderou pesquisas que criaram tratamentos biológicos para sementes, com base em bactérias benéficas do solo — os chamados inoculantes. Seu foco principal foi a promoção da fixação biológica de nitrogênio (FBN), processo que utiliza bactérias para converter o nitrogênio do ar em uma forma que as plantas conseguem absorver, dispensando o uso de fertilizantes químicos.


Essas tecnologias foram aplicadas com grande sucesso em culturas de soja, feijão e milho, elevando a produtividade em até 8% e reduzindo drasticamente a emissão de gases de efeito estufa. Estima-se que os bioinsumos desenvolvidos por Hungria já tenham sido utilizados em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, economizando até US$ 25 bilhões por ano em fertilizantes e evitando a emissão de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalente anualmente.


🔬 Pioneirismo científico e impacto global


Considerada a “mãe da microbiologia agrícola brasileira”, Mariangela Hungria tem mais de 500 publicações científicas e foi responsável por lançar o primeiro manual em português sobre microbiologia do solo nos trópicos. Também foi pioneira no uso de Azospirillum brasilense, uma bactéria que, em combinação com rizóbios, dobrou a produtividade de leguminosas como soja e feijão.


“Sem essas bactérias, a soja brasileira não seria economicamente viável”, destaca a pesquisadora.

Com isso, o Brasil tornou-se o maior produtor e exportador de soja do mundo, utilizando tecnologia limpa e acessível, com produção nacional de insumos biológicos — um diferencial ainda mais estratégico após as restrições de fornecimento global causadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.


👩‍🔬 Uma trajetória de superação e paixão pela ciência


Natural de Itapetininga (SP), Mariangela se encantou pela ciência ainda criança, incentivada pela avó, professora de ciências. Graduou-se em Engenharia Agronômica na Esalq/USP, onde consolidou seu interesse pela microbiologia do solo. Realizou mestrado, doutorado e pós-doutorado em instituições nos Estados Unidos e Espanha.

Atualmente, é professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), bolsista de produtividade do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.


Apesar do reconhecimento, Mariangela relembra os desafios que enfrentou como mulher, mãe e pesquisadora.


“Enfrentei preconceitos por ser mãe jovem e por ter uma filha com necessidades especiais, mas nunca deixei de acreditar no impacto da ciência”, afirma.

🌍 Uma agricultura mais feminina e sustentável


Para Mariangela, a agricultura do futuro será feminina — baseada no cuidado com o solo, o meio ambiente e as pessoas. Ela acredita que o Brasil está à frente no uso de bioinsumos, mas ainda tem espaço para crescer: atualmente, esses produtos representam apenas 10% do mercado de fertilizantes no país.


“Produzimos alimento para quase 1 bilhão de pessoas, mas ainda convivemos com a insegurança alimentar. Produzir mais é importante, mas distribuir melhor e de forma sustentável é o verdadeiro desafio”, conclui.

🏆 O Prêmio Mundial da Alimentação


Criado pelo cientista Norman Borlaug, Nobel da Paz de 1970 e pai da Revolução Verde, o World Food Prize reconhece pessoas que promovem soluções para combater a fome e melhorar a qualidade da produção de alimentos. Mariangela junta-se agora a nomes como Edson Lobato, Alysson Paolinelli e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, únicos brasileiros laureados anteriormente.


Fontes: BBC / DW

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