Etanol de milho ganha protagonismo no Brasil, responsável por cerca de 20% da produção nacional
- alexandrequeiroz41
- 23 de set.
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Nos últimos anos, a matriz de biocombustíveis brasileira tem passado por uma transformação silenciosa, mas de grande impacto: o avanço do etanol de milho.

Em 2024, a Impasa tornou-se a maior produtora nacional de etanol, com 3,7 bilhões de litros fabricados a partir do milho — superando a Raízen, tradicional líder no setor sucroenergético. A trajetória chama atenção: em 2020, a produção brasileira de etanol de milho girava em torno de 2 bilhões de litros. Apenas quatro anos depois, o volume ultrapassou 7,5 bilhões de litros, crescendo a uma taxa média de 33% ao ano. Hoje, o produto já responde por cerca de 20% de todo o etanol consumido no país, com expectativa de atingir 30% em pouco tempo.
A entrada da Petrobras no setor
Esse movimento não passou despercebido pela Petrobras, que anunciou a intenção de retomar sua participação no mercado de biocombustíveis, abandonado pela estatal na década passada. De acordo com fontes de mercado, as negociações em andamento miram justamente as líderes do segmento, Inpasa e FS Bioenergia, responsáveis por 80% do etanol de milho produzido no Brasil.

A estratégia reflete não apenas o crescimento vertiginoso da modalidade, mas também uma vantagem competitiva: o custo de produção do etanol de milho pode ser até 40% menor do que o da cana-de-açúcar, em grande parte devido aos subprodutos gerados durante o processo.
DDG e óleo de milho
O destaque entre os subprodutos da produção de etanol a partir do milho é o DDG (Dried Distillers Grains), grãos secos de destilaria resultantes da fermentação do milho. Com 30% de proteína, contra 8% do grão in natura, o DDG é altamente valorizado como ração para bovinos, suínos e aves, criando uma conexão direta entre o setor de biocombustíveis e a pecuária. Grandes empresas de alimentos, como a BRF, já utilizam o insumo em suas unidades no Centro-Oeste.

Outro derivado de peso é o óleo de milho, extraído durante o processo de fabricação do etanol. Esse óleo é amplamente utilizado para a produção de biodiesel, agregando valor à cadeia e diversificando as fontes de energia renovável no país.
Integração de safras e sinergia agrícola
A ascensão do etanol de milho no Brasil está intimamente ligada ao modelo de produção agrícola adotado no Centro-Oeste, onde a cultura é frequentemente plantada na entressafra da soja. Conhecida como safrinha, essa prática otimiza o uso da terra: após a colheita da soja no verão, o milho é semeado no outono, aproveitando condições de luminosidade adequadas e garantindo produtividade.
O resultado é um círculo virtuoso: a demanda das usinas garante mercado para o milho safrinha, enquanto a maior oferta do grão estimula novos investimentos em unidades produtoras de etanol. Atualmente, o Brasil conta com 24 usinas de etanol de milho em operação e mais de 30 projetos anunciados para os próximos anos.
Um combustível estratégico
Apesar do crescimento acelerado do milho, o etanol de cana segue essencial, principalmente por integrar a produção de açúcar, que responde por metade das exportações mundiais do produto. No entanto, o avanço do etanol de milho fortalece a segurança energética brasileira e diversifica a matriz de combustíveis renováveis.

Vale lembrar que, por regulamentação, a gasolina vendida no Brasil já contém 30% de etanol anidro em sua composição, percentual que pode chegar a 35% futuramente. Isso garante demanda constante, abrindo espaço para que milho e cana coexistam como matérias-primas complementares.
Perspectivas
Com produção crescente, custos competitivos e múltiplas utilidades dos subprodutos, o etanol de milho se consolida como protagonista no setor energético brasileiro. O interesse da Petrobras apenas confirma o potencial do segmento, que une ganhos econômicos, aproveitamento agrícola eficiente e contribuição para a transição energética sustentável.
O Brasil, que já é referência mundial em biocombustíveis, pode estar diante de uma nova etapa: a consolidação de um modelo que une etanol de cana e de milho, fortalecendo sua posição no mercado global de energias limpas.
Fonte: InvestNews