Estudo aponta cultivo de plantas em cidades para combate à fome e às mudanças climáticas
- alexandrequeiroz41
- 7 de out.
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Pesquisadores da Esalq/USP analisam como o forrageamento urbano pode contribuir simultaneamente para o acesso à alimentação saudável e para a adaptação das cidades às mudanças climáticas.

Do laboratório à cidade
A pesquisa, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, sob orientação do professor Demóstenes Ferreira Silva Filho, constitui-se de três etapas complementares:
Uma revisão internacional de estudos sobre o tema;
Uma pesquisa de campo com mais de 300 moradores da cidade de São Paulo;
Entrevistas com gestores e servidores públicos de órgãos ambientais em diferentes níveis de governo.
Os resultados indicaram que mais de 60% dos entrevistados já haviam praticado forrageamento, e cerca de 30% declararam fazer isso com o objetivo de complementar a alimentação familiar.

“O forrageamento urbano é uma prática emergente no mundo e pode se tornar um aliado estratégico para cidades mais sustentáveis e resilientes. As árvores podem oferecer muito mais do que sombra e beleza: elas também podem ajudar a colocar comida no prato das pessoas.” explica o engenheiro florestal Eduardo Ribas, autor do projeto.
O estudo também observou que o conhecimento tradicional sobre plantas comestíveis, antes comum nas gerações mais antigas, está se perdendo nos centros urbanos.
“Há uma correlação direta entre renda e alimentação. Para famílias com menos recursos, coletar plantas pode ser um complemento importante”, explica o pesquisador.
Cidade e natureza
Em Piracicaba, exemplos práticos mostram como o forrageamento pode transformar o cotidiano. As moradoras Maria Muniz e Maria Aparecida cuidam de uma área verde próxima às suas casas, cultivando mais de 30 espécies de plantas — entre comestíveis, medicinais e aromáticas, como guaco, ora-pro-nóbis, melissa, manga, mamão e graviola.
Além de produzirem parte de seus alimentos, compartilham os frutos com os vizinhos, contribuindo para o senso comunitário e para a autonomia alimentar local.
Essas experiências refletem o potencial do forrageamento urbano não apenas como uma prática ecológica, mas também como um instrumento de inclusão social e de educação ambiental.
Planejamento urbano e políticas públicas
O estudo sugere que o forrageamento urbano seja incorporado às políticas de planejamento das florestas urbanas, com diretrizes que aliem sustentabilidade, segurança alimentar e conservação ambiental. Entre os principais desafios apontados estão:
a falta de informação sobre espécies comestíveis seguras para consumo;
a necessidade de um planejamento técnico de plantio e manutenção;
e a educação ambiental como ferramenta essencial para formar cidadãos capazes de reconhecer e manejar essas espécies.
“Educar é o primeiro passo. É preciso ensinar a população a identificar as plantas que podem ser usadas de forma segura e planejar o espaço urbano para que elas estejam disponíveis sem gerar riscos”, destaca Ribas.
Conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
A pesquisa recebeu apoio da Capes e está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável e o ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis.
Além disso, o trabalho dialoga com diretrizes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que destacam a importância das soluções baseadas na natureza e da resiliência urbana frente às mudanças climáticas.
“Vivemos em um país majoritariamente urbano, e pensar como as árvores e as plantas das cidades podem nos ajudar a lidar com adversidades climáticas, ao mesmo tempo em que ampliam o acesso à alimentação, é extremamente relevante”, conclui Ribas.
A tese “Forrageamento urbano: perspectivas para políticas públicas brasileiras” está disponível no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Esalq/USP.
Fonte: Jornal da USP