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Bactéria da Caatinga se torna aliada no desenvolvimento de bioinsumos contra a seca

  • alexandrequeiroz41
  • 30 de set.
  • 3 min de leitura

Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (MG) descobriram uma bactéria nativa da Caatinga capaz de ajudar plantas a resistirem melhor à escassez de água.


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Embrapa milho e sorgo (MG) Créditos: Embrapa

Uma bactéria isolada de solos áridos do Ceará acaba de virar o ingrediente principal de uma nova tecnologia contra a seca que promete melhorar o desempenho das lavouras brasileiras. Intitulada Hydratus, isolada em condições naturais de clima árido, está em fase de testes e pode se transformar em bioinsumo agrícola para apoiar culturas expostas a longos períodos de seca.


O avanço representa mais um passo dentro da estratégia de aproveitamento da biodiversidade brasileira para criar soluções sustentáveis no campo, com potencial de reduzir perdas e ampliar a resiliência de sistemas produtivos.


Da Caatinga para o campo


O microrganismo identificado atua estimulando mecanismos fisiológicos que aumentam a tolerância das plantas ao estresse hídrico. De acordo com os pesquisadores, a bactéria foi selecionada após análises de diferentes linhagens resistentes às condições extremas da Caatinga, bioma que cobre cerca de 10% do território brasileiro e enfrenta temperaturas elevadas, chuvas irregulares e solos pobres em nutrientes.

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O Hydratus foi formulado para proteger as plantas em condições de escassez hídrica e ainda estimular seu crescimento. Créditos: Embrapa

A perspectiva é que, aplicado como bioinsumo, o microrganismo permita ao agricultor reduzir perdas produtivas em anos de estiagem severa, ao mesmo tempo em que diminui a dependência de insumos convencionais. Estudos em áreas comerciais mostraram aumento de até 7,7 sacas por hectare na produção de milho e 4,8 sacas por hectare em lavouras de soja tratadas com o bioproduto.


Como funciona a bactéria contra a seca


O Hydratus foi concebido após oito anos de pesquisas que começaram em 2017. Das 414 estirpes bacterianas isoladas em áreas de baixa precipitação no Ceará, 28 mostraram resistência em ambientes com pouca água. A estirpe B. subtilis 1A11 destacou-se pela produção de exopolissacarídeos (EPS), moléculas que formam uma camada protetora ao redor das células, reduzindo a perda de água das plantas e favorecendo sua sobrevivência.


Além disso, a bactéria é capaz de estimular a produção de fitohormônios, reguladores naturais que alteram a morfologia das plantas, ampliando o crescimento radicular. Esse efeito garante raízes mais profundas e eficientes na absorção de nutrientes e água em solos secos. Ensaios em hidroponia e sob estresse osmótico confirmaram o aumento do comprimento das raízes, da atividade fotossintética e do acúmulo de biomassa nas plantas tratadas.


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Experimentos conduzidos com a bactéria Hydratus Créditos: Embrapa

Outro diferencial técnico está na formulação inovadora desenvolvida pela Bioma, que concentra um elevado número de células bacterianas associadas a agentes protetores. Essa combinação garante maior sobrevivência do microrganismo no solo e prolonga a vida útil do produto nas prateleiras.


Agricultura sob mudanças climáticas


As instabilidades climáticas — como irregularidade das chuvas e aumento da frequência de secas prolongadas — colocam em risco a segurança alimentar. Segundo dados do INPE, enquanto algumas regiões brasileiras registraram aumento das chuvas, outras enfrentam redução drástica, cenário que afeta diretamente a produtividade agrícola.


Nesse contexto, bioinsumos como o Hydratus despontam como alternativas estratégicas. Ao aumentar a eficiência do uso da água e garantir ganhos de produtividade, eles oferecem suporte direto ao agricultor. Além disso, reduzem a necessidade de insumos químicos e irrigação, contribuindo para uma agricultura de baixo carbono.


Bioinsumos em pauta global


O lançamento do Hydratus ocorre em um momento simbólico: o produto será apresentado como caso de sucesso brasileiro na COP 30, em Belém (PA), onde a Embrapa destacará os avanços do país em bioinovação agrícola.


O Brasil já ocupa posição de liderança mundial em bioinsumos. Tecnologias como inoculantes fixadores de nitrogênio para soja economizam bilhões de dólares em fertilizantes importados e reduzem emissões de gases de efeito estufa. Agora, soluções como o Hydratus expandem esse protagonismo ao integrar também a adaptação às mudanças climáticas.


Histórico de inovação da Caatinga


O Hydratus não é o primeiro bioinsumo desenvolvido a partir da biodiversidade da Caatinga. Em 2021, a Embrapa Meio Ambiente apresentou o Auras, formulado a partir da bactéria Bacillus aryabhattai isolada das raízes do mandacaru, cacto símbolo do semiárido. O produto também atua na promoção de crescimento vegetal em condições de seca e se consolidou como o primeiro registrado no Brasil com essa finalidade.


Fonte: Embrapa



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