São Paulo planeja sistema de monitoramento em segurança alimentar
- alexandrequeiroz41
- 27 de jun.
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A cidade de São Paulo poderá contar, em breve, com um sistema permanente de vigilância e monitoramento da segurança alimentar e nutricional (SAN), conforme propõe um grupo de especialistas da USP.

A proposta, apresentada em artigo publicado no Jornal da USP, sugere a criação de uma ferramenta pública capaz de reunir e integrar dados sobre produção, acesso, consumo e políticas públicas relacionadas à alimentação — uma estratégia essencial para lidar com os desafios crescentes da insegurança alimentar urbana.
Esse projeto encontra consonância direta com as pesquisas e iniciativas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Combate à Fome (INCT Fome), que já revelaram que mais da metade da população da capital paulista vive algum grau de insegurança alimentar. Em 2022, um levantamento liderado por pesquisadores do instituto apontou que cerca de 52% dos domicílios da cidade enfrentavam dificuldades para garantir uma alimentação adequada e saudável.
📊 Diagnósticos
A proposta da USP vai além da mensuração pontual: trata-se de criar uma estrutura contínua, baseada em evidências, para orientar o poder público na formulação de políticas de combate à fome, redução de desigualdades e promoção do direito humano à alimentação. A ideia é desenvolver uma base de dados dinâmica, que articule fontes como pesquisas domiciliares, estatísticas populacionais, dados de acesso à saúde e educação, informações sobre programas sociais e hábitos alimentares.
Esse tipo de ferramenta ganha ainda mais relevância ao se observar a urgência dos dados já levantados pelo INCT. Durante o II Simpósio INCT Combate à Fome, realizado em 2023, foi reiterada a necessidade de sistemas estruturados e interdisciplinares para enfrentar a crise alimentar nas cidades brasileiras . O simpósio também destacou o papel dos centros urbanos na formulação de políticas públicas territorializadas, que reconheçam as vulnerabilidades locais — algo que o sistema proposto pela USP poderá fortalecer.
Em pesquisa realizada entre os meses de maio e julho de 2024, pelo Comusan-SP (Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional), o Obsanpa (Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo), e pesquisadores da Unifesp e UFABC, foi revelado que mais de 5,8 milhões de pessoas na cidade tiveram que reduzir a variedade de alimentos, diminuir as porções, pular refeições ou até passar um dia inteiro sem comer.
🔬 Tecnologia, ciência e gestão pública
Inspirado em metodologias já aplicadas em países como México, Canadá e Alemanha, o sistema de vigilância de São Paulo prevê a participação de diferentes esferas da gestão pública, além de universidades, conselhos municipais e representantes da sociedade civil. Essa governança compartilhada visa garantir transparência e aplicação prática dos dados gerados.
A proposta da USP também busca inserir São Paulo em redes internacionais de enfrentamento à insegurança alimentar, articulando a cidade aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente no que tange à erradicação da fome, saúde e bem-estar e redução das desigualdades.

🌱INCT Combate à Fome
O INCT tem atuado fortemente no mapeamento e compreensão das dinâmicas que sustentam a fome e a má nutrição no Brasil, especialmente nos centros urbanos. Seus estudos combinam análises socioeconômicas, políticas públicas, acesso a alimentos saudáveis e as condições de vulnerabilidade agravadas por questões como inflação, desemprego e mudanças climáticas.