Uma pesquisa realizada pela KPMG, em parceria com a Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil, revelou que apenas 16% das propriedades rurais no Brasil possuem acesso à internet de qualidade. Esse déficit tecnológico afeta principalmente pequenos e médios agricultores.
O engenheiro agrônomo Rodrigo Maule, pesquisador associado do Centro de Agricultura Tropical Sustentável (STAC) e coordenador executivo do Grupo de Políticas Públicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ambos da USP, analisa os fatores que dificultam a conectividade no campo e os impactos negativos para os agricultores.
Segundo Maule, a falta de infraestrutura e os altos custos necessários para implementar a conectividade são os principais obstáculos. "A telefonia móvel é o meio mais democrático de comunicação e acesso a dados em qualquer lugar. Contudo, o alto custo e a baixa demanda tornam o atendimento nas áreas rurais pouco atrativo para as operadoras", afirma Maule.
INCLUSÃO
O pesquisador, que contribuiu com um capítulo no livro "Agro 4.0: Fundamentos, Realidades e Perspectivas para o Brasil", enfatiza que a conectividade é essencial para pequenos produtores e a agricultura familiar. Sem ela, esses profissionais enfrentam barreiras significativas para se integrar ao mercado de produção. "A comunicação facilita o acesso ao mercado, a troca de informações e a comercialização de insumos. A ausência dessa conectividade pode levar à exclusão produtiva e perda de competitividade", analisa Maule.
MELHORIAS
Maule destaca que uma melhor conexão nas áreas rurais traria benefícios significativos, como acesso à assistência técnica remota. Muitas vezes, produtores esperam semanas por uma visita técnica, causando atrasos na produção. Com a comunicação móvel, problemas podem ser resolvidos rapidamente através de mensagens e compartilhamento de arquivos com técnicos ou outros agricultores.
Além disso, a emissão de documentos como notas fiscais e guias de transporte animal seria agilizada com recursos digitais. Sem acesso a essas ferramentas, os agricultores precisam se deslocar até cidades próximas, gastando tempo e recursos. "A boa comunicação facilita o acesso a inovações, melhora a gestão da unidade produtiva e traz grandes benefícios para os agricultores", comenta Maule.
INVESTIMENTO
Rodrigo Maule afirma que a conectividade rural é uma prioridade para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério das Comunicações (MCom) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esses órgãos possuem secretarias dedicadas ao tema.
Um mecanismo importante para melhorar a conexão rural é o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Criado pela Lei 9.998, de 17 de agosto de 2000, o fundo visa financiar a expansão de serviços de comunicação em escolas, comunidades carentes e áreas rurais.
"Precisamos de bons projetos e estudos técnicos para acessar esses recursos e ampliar a conectividade rural, promovendo inclusão produtiva e digitalização. É uma operação irreversível, e devemos oferecer essas condições para produtores de todos os portes", conclui Maule.
Veja a matéria, na íntegra, em: https://jornal.usp.br/radio-usp/falta-de-acesso-a-internet-de-qualidade-no-meio-rural-exclui-pequenos-produtores/
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